Hipotonia como causa dos transtornos gerais da Aprendizagem e do Desenvolvimento

A hipotonia (flacidez muscular), associada ou não à frouxidão de ligamentos, independente do motivo que a tenha determinado, sempre compromete a eficiência da atividade muscular. Isso ocorre porque a natureza é muito econômica na sua arquitetura, de tal maneira que os músculos são do menor tamanho possível e engenhosamente inseridos nos ossos de maneira oblíqua, utilizando-se de pontos de alavanca para que funcionem. Assim, desempenham a sua atividade com eficiência e com o mínimo de dispêndio de energia. Quando há hipotonia e/ou frouxidão de ligamentos, o resultado de toda a atividade muscular (força) fica comprometido. Como nem sempre o grau de hipotonia é uniforme em todos os grupos musculares, o comprometimento funcional manifesta-se de maneira diferente, proporcional à intensidade da flacidez em cada parte do corpo. Mas, mesmo dentro do “ambiente” hipotônico, há grupos musculares que desempenham adequadamente sua função. É por essa razão que as manifestações clínicas observadas são diversificadas e nem todas estão sempre presentes , inclusive na Síndrome da Infância (EValDO)*.

Os sinais-sintomas mais encontrados desde o nascimento, isolados ou em associação, são os seguintes:

  • Sucção débil; engasgos frequentes.
  • Refluxo gastro-esofágico.
  • Dificuldade no controle da salivação, provocando a baba.
  • Dificuldade na passagem da alimentação pastosa para sólida.
  • Dificuldade na mastigação de alimentos sólidos (que não se dissolvem na boca).
  • Comer com a boca aberta, com velocidade excessiva.
  • Respirar pela boca, mesmo na ausência de obstáculo das vias aéreas superiores (fossas nasais).
  • Atraso no surgimento da fala e dificuldade para articular sons que exigem elevação da ponta da língua (r, l, lhe).
  • Projeção da língua para fora das arcadas dentárias na articulação do sons “t” e “d ”.
  • Formação de bolhas de saliva durante a fala.
  • Esforço exagerado para produzir voz. Timbre de voz áspero.
  • Dificuldade em dosar o volume, prevalecendo a voz gritada.
  • Atropelamento da fala pela falta de fôlego.
  • Substituição do engatinhar pelo arrastar no chão.
  • Cansaço físico fácil – a criança pede colo constantemente.
  • Corridas desengonçadas e quedas frequentes.
  • Fuga de atividades que exigem esforço muscular.
  • Jeito estabanado, aflito, desastrado e desorganizado.
  • Posição dos pés sugerindo pés chatos, com joelhos em xis.
  • Enurese noturna (xixi na cama) após a fase de controle vesical.
  • Escape de urina diurno com esforço físico e no riso incontrolável.
  • Escape de fezes (às vezes num contexto de prisão de ventre).
  • Deformidade das arcadas dentárias.
  • Desorganização do padrão gráfico (letras e/ou desenhos mal distribuídos no espaço, calcados, de tamanho irregular).
  • Inquietude. Desatenção. Desligamento ( TDAH).
  • Cifose funcional (corcunda).

Apesar da importância desses sinais, muitos deles interferindo com a adaptação das crianças ao ambiente, o aspecto mais relevante nesse contexto clínico de hipotonia/frouxidão de ligamentos é o fato de sugerirem o possível comprometimento do domínio, da adequada exploração e incorporação do espaço que as circunda pela pobreza da qualidade da atividade motora sem precisão.

Isso leva a grave comprometimento da definição e organização interior do espaço (espaço interno)*, que no início da vida está a serviço de calibrar a medida, a direção e a força dos movimentos para que seja atingido algum objetivo.

Esse é o primeiro passo, fundamental para que sejam estabelecidas, de forma crescente, as relações espaço/tempo que, além de tornarem os movimentos cada vez mais precisos, são as bases para o surgimento do conceito abstrato de tempo, que viabiliza a aquisição e desenvolvimento da linguagem, assentada em tempos verbais. Desse modo, quando esse jogo funcional está comprometido, acontecem distorções que afetam a capacidade de abstração e, portanto, a linguagem. É por essa razão que, nessa circunstância, crianças inteligentes e com bom potencial também apresentam atitudes e relatos desorganizados, são estabanadas, imaturas, “infantilizadas,” além de demonstrações de arrojo e/ou medo inexplicáveis, pela falta da correta referência do contexto (relação abstrata de causa/efeito, que qualifica o modo de funcionar). Têm dificuldade para aquisição de conceitos e domínio de palavras que não têm representação física (abstratas) como: depois, antes, amanhã, os dias da semana, espera a sua vez, a sequência dos meses, horas, a noção de perigo, de quantidade, de valores, etc. A alfabetização, abstração mais sofisticada, ficará seriamente ameaçada e comprometida se desencadeada na vigência dessa situação clínica.

Essas crianças podem se beneficiar dos recursos atuais da medicina foniátrica, que favorecem de maneira significativa as intervenções da fisioterapia e das terapias ocupacional, fonoaudiológica ou psicopedagógica que se fizerem necessárias, de forma individual ou associada, para que tenham desenvolvimento compatível com seu potencial.

(Vide Síndrome EValDO)

*www.foniatria.med.br

Voltar

Dr. Evaldo J. B. Rodrigues. CRM - SP- 12114. Todos os direitos reservados.