POR QUE VIR A SER DISLÉXICO 2?

Evaldo José Bizachi Rodrigues

                                             Igualmente desastrosas são duas situações:
a providência certa na hora errada;
a providência errada na hora certa.

Entenda como a dislexia pode ser evitada

Um dos problemas de aprendizagem que mais preocupa e desorganiza a dinâmica das famílias é o insucesso escolar dos filhos. Entre suas muitas  causas está a  falha na  discriminação auditiva, a  dificuldade em diferenciar os sons da fala. Esta pode ser detectada clinicamente e muitas vezes ocorre também em crianças com audição normal.  É mais um fato que, em certas circunstâncias, também complica seriamente  a aquisição e a automatização dos mecanismos de leitura e escrita. Assim, a criança lê e não entende ou apresenta padrão de escrita não compatível com o tempo de treinamento. É, então, rotulada de disléxica.

Mas por que isso acontece?

Como consequência da dificuldade de diferenciação dos sons da fala (a discriminação dos sons), ficam alterados o desenvolvimento e o aprimoramento da retenção dos sons, ou seja, a memória auditiva. Esta, por sua vez, compromete a habilidade de juntar e separar sons (a análise e a síntese auditivas). Com isso, fica muito difícil a transposição correta e automática dos sons da fala para as letras correspondentes, no ato de escrever, e das letras para os sons no ato de ler (reauditorização), mesmo que a criança já tenha desenvolvidas  as estruturas do sistema nervoso central que permitem esse jogo funcional. Muito antes dessa falha se manifestar no período de alfabetização, quando cada uma dessas funções, ao lado de tantas outras, é significativamente mais exigida, há vários sinais e sintomas com base nos quais é possível detectá-la. Um deles, muito frequente, é o atraso do surgimento da fala, ou fala distorcida, com trocas e omissões sistemáticas dos sons, principalmente dos que dependem da sutil variação de sonoridade surda/sonora das consoantes.
Também  acontecem  desatenção e desligamento, que costumam ser relatados como parecendo que a criança não entende  a fala, o que leva à  constante  solicitação  para que se repita o que foi falado. Por isso, o seu vocabulário tende a ser limitado, o que se traduz na pobreza dos relatos, que são mal elaborados. A criança fica inquieta quando perde o “fio da meada” do assunto, o que dificulta a percepção de contextos e de conceitos que exigem melhor abstração,o que prejudica a qualidade da sua interação.

A adequada avaliação clínica, sem necessidade de nenhum exame específico, detecta com facilidade as deficiências no mecanismo de processamento dos sons da fala e suas sequelas.  O desencadeamento da alfabetização, sem que esteja desenvolvida a habilidade nesse jogo funcional de trabalhar os sons da fala, coloca a criança ouvinte, inteligente e com bom  potencial em verdadeiros becos sem saída. Na escrita aparecem  trocas , omissão e inversão de letras, além de padrão gráfico  irregular. A leitura é silabada, truncada, com substituição das palavras lidas, com sério prejuízo da compreensão do texto. O insucesso escolar, que vai minando a autoestima da criança, desencadeia sentimentos de aversão e de raiva pela leitura e a escrita.  O rótulo de dislexia usado nesses casos leva a família ao sofrimento e ao desespero .

Por motivos óbvios, a criança será tanto mais beneficiada, e até tirada da rota da dislexia, quanto mais precoces forem o diagnóstico  e o início do tratamento.  Atualmente a medicina foniátrica conta com recursos importantes   que  facilitam a intervenção fonoaudiológica, psicopedagógica, psicológica e da terapia ocupacional, individualmente ou combinadas, dependendo de cada caso.


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Dr. Evaldo J. B. Rodrigues. CRM - SP- 12114. Todos os direitos reservados.