TEMPO FAMILIAR & JUÍZO DE VALOR

23 de abril de 2017 by admin0
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O surgimento de situações que ameaçam ou comprometem a saúde, o desenvolvimento, o aprendizado ou a adaptação de uma criança inteligente e com bom potencial ao contexto familiar e social levam os pais a desenvolverem dois tipos de angústia. Uma delas é a “angústia expectante”, que acontece toda vez que o filho é acometido de qualquer manifestação de natureza física, como uma pneumonia, uma fratura, a necessidade de uma internação hospitalar ou uma intervenção cirúrgica, por exemplo. Ao lado das providências necessárias para atender a essas situações, os pais têm necessidade de compartilhar a ansiedade a elas inerente, chamando a solidariedade dos familiares e dos amigos.

Chega a ser quase uma compulsão relatar inúmeras vezes o fato ocorrido e as providências tomadas. Não perdem a oportunidade de narrá-los com emoção e ênfase, como se ainda estivessem em curso, mesmo depois de passado muito tempo.
A situação é completamente diferente quando estão em jogo falhas nas etapas da maturação, da aprendizagem ou do desenvolvimento, que fazem com que sua criança apresente defasagem no desempenho de atividades ligadas à interação e à adaptação ao seu ambiente. Nessa circunstância, o que está em jogo é a “angústia de juízo de valor”, desencadeada quando o cotejo da realidade com o “projeto filho” mostra desacerto. Nesse projeto de expectativas, que é inerente à espécie humana, quase inconsciente, o “meu filho” será saudável, bonito, bem aceito e admirado por todos; inteligente, terá sucesso na profissão que um dia irá exercer; não passará pelas dificuldades e vicissitudes pelas quais passei; será a alegria da minha vida , talvez o amparo na minha velhice e a continuidade da minha família. Mais vivenciados do que verbalizados, esses sentimentos estão de tal maneira internalizados que desvios desse projeto, embora percebidos, tendem a ser energicamente negados e trazem sofrimento. Qualquer comentário sobre o mau desempenho da criança é interpretado como ofensa.
Enquanto a angústia expectante leva à tomada imediata de providências para resolver a morbidez, e as prescrições são respeitadas com rigor, na angústia de juízo de valor essas práticas são difusas e as falhas apresentadas são frequentemente minimizadas, associadas a fatores externos, quase folclóricos. É o que acontece, por exemplo, quando a criança demora a andar, tem atraso e/ou distorção na fala, dificuldade em adquirir e/ou automatizar os mecanismos de leitura e escrita. Não anda porque fica muito tempo no colo, tem preguiça ou está muito gorda. Está gaguejando porque mudaram de cidade, ou porque nasceu o irmão, ou porque levou um susto. Fala errado porque convive com um amigo que tem essa dificuldade. Passou a rejeitar as atividades de leitura e escrita e, consequentemente, a tirar notas baixas, depois que foi se sentar no fundo da classe, ou porque a professora é exigente, ou porque mudou a professora, trocou de ônibus escolar, etc.
Mesmo quando essas falhas provocam ansiedade, a tendência que prevalece entre os pais é “deixar correr”, na expectativa de que “com o tempo, isso se resolve”. Essa atitude é reforçada pela informação, embora sem confirmação da fonte, de que existiu alguém com a mesma dificuldade que, sem nenhuma ajuda, teve sucesso em tudo que realizou. Transitoriamente essa notícia traz algum tipo de “conforto” que, infelizmente, a realidade do dia a dia não sustenta.
A providência, então, passa a ser de luta contra o mau resultado, redundando em maior pressão sobre a criança. Quanto à fala, a atitude mais frequente é a de nomear com muita ênfase tudo que está à volta da criança, o que significa: “Quem sabe se entrando na orelha com bastante força, você fala certo”. Outro tipo de coação acontece quando os pais fingem que não entenderam o que a criança pediu, mesmo já sabendo o que ela solicitou. Na alteração do ritmo da fala (a “gagueira”), mandam respirar, ficar calma, falar devagar, etc. Se a dificuldade estiver no rendimento escolar, a dinâmica cobrança/mau resultado/castigo é tão intensa que desestabiliza o contexto familiar .
A frustração pela falta do resultado esperado leva os pais à repetição dessas práticas de forma cada vez mais intensa, quase agressiva, o que assusta e irrita profundamente a criança. A dificuldade em aceitar o mau desempenho da criança (o “juízo de valor”), cada vez mais defasada em relação às outras (que, para piorar, muitas vezes a rejeitam), cria na família um clima misto de ansiedade e de angústia. Há um sentimento de culpa, de ressentimento pelas expectativas frustradas, de sensação do “projeto filho” ameaçado. Então, vem o desalento com uma situação não equacionada de forma conveniente, mesmo depois de respostas competentes e honestas de vários especialistas, embora restritas às respectivas especialidades.
Pela falta de informação, só depois de a criança e a família terem passado por longo período de sofrimento, de tempo perdido pela falta de diagnóstico, pela ausência de orientação e de tratamento adequados, é que é acionada a medicina foniátrica. É no seu âmbito, que vem apresentando evolução significativa e conta atualmente com muitos recursos, que os distúrbios e as falhas citadas são mais bem considerados. Da sua atuação redunda rapidez e eficiência com as terapias ocupacional (T.O), fonoaudiológica, pedagógica e psicológica que se fizerem necessárias, aplicadas de forma particular ou combinadas.

Foniatria: especialidade médica que diagnostica e trata distúrbios da maturação, da aprendizagem (da leitura e escrita inclusive) e do desenvolvimento ( organização e adaptação)


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