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02/maio/2024

Existem quadros clínicos de crianças que têm esporádicos lapsos de contacto visual, que raramente conseguem atingir objetivos ligados à dinâmica do dia a dia, via de regra referentes a alimentos, que de modo intermitente respondem a alguma intervenção verbal  (geralmente o não!!) e que as vezes estão ligadas às músicas de abertura de novelas ou de desenhos animados , que não falam, têm o tempo de atenção  encurtado , são inquietas e funcionam de maneira alheia ao que acontece ao seu redor. Enfim, apresentam  uma qualidade pobre  de interação com o seu ambiente que as levam , com freqüência e de maneira açodada, a serem   consideradas   autistas  ou  como fazendo parte do espectro autista. Muitas vezes as tendências de andar nas pontas dos pés,  da  fixação em objetos que giram , como ventilador por exemplo, são usadas como sinais para que o diagnóstico “seja fechado”. Seria uma veleidade se afirmasse  que esse elenco de sinais, com maior ou menor intensidade,  não são encontrados no espectro autista.

Porém, acontece que existem casos em que esses  sinais  fazem parte de outro quadro clínico que não diz respeito ao autismo. São casos em que, ao lado de outras manifestações, a dificuldade está na acentuada incapacidade  da incorporação do espaço que rodeia a criança, associada a importante falha  da atenção seletiva, que compromete de maneira severa a possibilidade de  ser criada a relação entre o espaço e o tempo. Esse fato precisa ser levado em conta e considerado para o necessário diagnóstico diferencial porque  pode acontecer  em crianças com flacidez muscular (hipotonia) e/ou frouxidão de ligamentos. Isso é muito importante porque, se for o caso, o tratamento que se dispõe na medicina foniátrica poderá criar  condição   para que a criança comece a incorporar  essa relação espaço/tempo, que é fundamental para a  aprendizagem e o desenvolvimento de qualquer habilidade. Inclui o surgimento da melhor qualidade da atenção, que aos poucos se torna seletiva, da incipiente  e progressiva capacidade de identificar e  estabelecer preferência por pessoas , objetos, alimentos, do aparecimento  de respostas  às demonstrações de afeto,   no aumento do jogo vocálico que um dia redundará na articulação de sons (fala).Enfim, o início de um círculo virtuoso na interação com o ambiente. São resultados possíveis nas circunstâncias mencionadas, em que a evolução  irá depender da capacidade de resposta de cada criança e, como item fundamental, de um ambiente de estimulação descontraído, caracterizado pela ausência de pressão,  de cobrança e de ansiedade, que só é conseguido  quando a família sente a segurança de uma situação clínica bem equacionada. Fica criada a condição de melhora marcante nos resultados das terapias necessárias de maneira isolada ou associadas (fonoterapia, psicopedagogia, T.Ocupacional, psicologia, fisioterapia, equoterapia). Não deixam de  ser nocivos os palpiteiros de dentro e de fora da família que, com a “intenção de ajudar”, massacram os pais já fragilizados e preocupados com a sua criança defasada em relação às demais da mesma idade. Levam os pais ao  desespero  que os impele  a sair  a procura de uma providência (consultas ou exames) com o “condão de uma vara mágica”, o que impede que aguardem com  calma e bom senso o surgimento dos resultados do tratamento clínico que de início aparecem lentamente nesses casos.

Evaldo José Bizachi Rodrigues


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02/maio/2024

A gagueira interfere de modo significativo na vida e representa uma situação clínica de muito desconforto para o falante e para seus interlocutores. Acontece um clima de constrangimento e de aflição em que o intento do ouvinte de facilitar o diálogo só piora a situação. […]


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02/maio/2024

A aquisição do conceito do espaço/tempo é fundamental  para  a integração da criança ao  ambiente como pré requisito  para  que sejam estabelecidas as relações de causa/efeito, que rejem o dia/dia, e por que  também viabiliza a alfabetização. As consequências da falha nessa aquisição são igualmente consideradas. […]


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02/maio/2024

A linguagem é o nome que se dá a qualquer meio sistemático de comunicar idéias ou sentimentos através dos signos. Signo é tudo aquilo que representa alguma coisa e, portanto, está sempre na dependência de quem o interprete. Essa correlação, em que se alternam o que é representado e o que se interpreta, também ocorre o tempo todo com a gente mesmo e rege todas as nossas relações. É a nossa “conversa interior”. É a que sempre “nos diz” alguma coisa desde que acordamos. O que vamos vestir, o que é urgente, o que é importante, o que será feito primeiro, o momento oportuno de uma providência, os meios e a estratégia que serão utilizados para alcançar determinado objetivo. Encontra-se entremeada aos devaneios e associações de idéias desencadeados quando se avista uma pessoa, ou se ouve uma música, um ruído, uma notícia ou pelo próprio curso dessa conversa interior, que às vezes assume contornos paranóicos. Mesmo quando dormimos estamos nos dizendo alguma coisa por meio dos sonhos. Como nessa circunstância não existe tempo de atenção, só possível no estado de vigília, sofremos porque não podemos comandar nossa atividade motora, nem nossa vontade. Não raro acordamos assustados e a nossa conversa interior termina sinistra, sob a aflição causada pelas imagens desordenadas que afloram à consciência.

Desse modo, o tempo todo estamos a serviço desse jogo funcional simbólico chamado linguagem . É o que rege e define toda e qualquer atividade e/ou interação que todos têm de acordo com a necessidade, a oportunidade, o interesse e o juízo de valor (expectativa, crença, prazer, ambição) que cada um consegue definir a cada momento, com a qualidade que depende da eficiência da sua linguagem interior. E sempre impregnada pela emoção e pelos sentimentos que emergem com a intensidade e o viés que dependem do que, e como, para si mesmo, cada um contou do mundo, no decorrer do tempo.

FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DA LINGUAGEM

Evaldo José Bizachi Rodrigues


DIGITALIZADA

É a linguagem que é exteriorizada através de códigos previamente estabelecidos e que devem ser do conhecimento das partes que interagem. Por isso é chamada comunicação digitalizada. Está vinculada a tempos verbais. Como é o resultado de um processo elaborado, nem sempre expressa   o que o emissor realmente sente ou pensa (…é para ser educado ou sincero? eis a questão).  É representada pela fala, pela escrita,  que aqui já foram   consideradas várias vezes, além  do  alfabeto de sinais (Libras), método Braile e código Morse.

COMUNICAÇÃO ANALÓGICA

É a linguagem que para ser interpretada depende do contexto em que ocorre. Com muita freqüência acontece sem que se perceba e deixa transparecer  o que vai no íntimo do emissor. Dependendo da maneira como se exterioriza recebe diferentes denominações, como as que se seguem:

.1-PARALINGUÍSTICA

É a manifestação da linguagem que ocorre através da emissão de sons e ruídos, como um grito, uma exclamação, um muxoxo, um resmungo, um raspar de garganta, um suspiro ou gemido que dependendo do contexto e das suas características, podem ser interpretados como  alegria, dor, aprovação, insatisfação, desprezo, prazer, alerta,  pânico, muitas vezes com uma carga de significado muito maior do que a fala poderia expressar. O mesmo acontece com a entonação da voz, que deixa transparecer tristeza, alegria, segurança, transmite empatia,  antipatia, expressa raiva, enfado, pieguice, dengo, submissão, arrogância, serenidade, timidez, cinismo.

.2-FISIOGNOMÔNICA

Emerge de aspectos físicos: forte, fraco, doentio, vendendo saúde, franzino, com a barba por fazer, alto, magro, gordo, sujo, calvo, usando barba,  tatuado  etc.. Cada um desses atributos, ao lado de tantos outros, levam a nossa conversa interior, baseada no juízo de valor de cada um, a inúmeras maneiras de moldar o sentimento que irá reger a interação e, como conseqüência, a atitude  que daí se manifesta. Veja, por exemplo, o procedimento para a escolha dos personagens para a realização de uma novela, um filme ou uma propaganda. Sempre leva em conta aspectos físicos que  podem sugerir  traços do  comportamento e do jeito de ser de cada um deles.

.3- CINÉSICA

É a interpretação sugerida pela gesticulação e pela postura corporal. A maneira e o modo de sentar, de cruzar as pernas, a intensidade e o vigor da gesticulação e dos movimentos corporais, os cacoetes de mexer as mãos, como o de passá-las nos cabelos, de esfregá-las, ou de tamborilar,  etc., podem expressar a qualidade da educação, o grau de ansiedade e de constrangimento, o desconforto ou, o estar à vontade, a segurança, a descontração, a auto confiança  além de outros  aspectos,  como a aparente sexualidade.

.4- MÍMICA

A expressão facial e o olhar, com muita frequência, traem o que a pessoa está procurando comunicar através da fala, tal é a intensidade e a força expressivas com que manifestam o que vai no íntimo, muitas vezes involuntariamente.
Com o olhar pode-se acolher ou fulminar. Com a expressão facial e o olhar não há como esconder preocupação, tristeza, angústia, dor, desagrado, aflição, dúvida, pavor, reprovação ou, mesmo, a notícia de um fato agradável, a alegria de uma conquista, o sucesso de uma empreitada, o fato de estar se sentindo bem, a realização de um sonho, o estado latente de felicidade.Também muito representativo  é o potencial de expressão através de incontáveis  gestos, tão arraigados ao cotidiano que muitos têm seu significado conhecido   universalmente.

.5-ARTEFACTUAL

Extremamente marcante é a comunicação que advém da vestimenta. Através dela se expressam os valores reverenciados em cada época e lugar. As características pessoais,  e mesmo as características culturais de um povo, evidenciam-se pela forma como se vestem. As roupas refletem riqueza, pobreza, o “bom e o mau gosto”, a atualização com as tendências do momento, a importância que se dá ao ambiente no qual se encontra, o estar ou não adequado a um evento. Deixam transparecer nuances da personalidade, da educação, do comportamento e, muitas vezes, da profissão. É importante lembrar que cada um, baseado nos  critérios estabelecidos pelo seu diálogo interior, se veste da maneira que define como  a melhor para o momento , considerando como supõe que será interpretado pelas pessoas com quem irá interagir

.6-OLFÁTICA

Mesmo não apresentando a sutileza funcional observada em outras espécies animais, o olfato desempenha papel fundamental no jogo simbólico, ou seja, na linguagem. O cheiro das pessoas, da sua roupa, do ambiente em que vive, em que trabalha, em que se diverte é tão expressivo de significado quanto o manifestado pela maneira como se vestem.
Talvez seja pelo olfato que o recém nascido mantém o vínculo mais forte com a mãe nos seus primeiros dias de vida. As estruturas anatômicas envolvidas nessa função são as que também registram as informações que trafegam através dos sentidos e são enviadas para o cérebro, todos ainda com funcionamento precário, sem muita precisão, numa época em que ainda não existe linguagem. Portanto essas informações não podem ser consideradas na “conversa interior” de forma consciente. São estruturas que mais tarde, já bem diferenciadas, também têm atuação significativa na exteriorização das emoções mais “primitivas” (rinencéfalo).

.7-HÁPTICA

É o que se interpreta através  do tato, do paladar e da sensibilidade somestésica (registro de pressão física, de força) . Pelo  vigor e pela característica da pele da mão que  são sentidos  num simples aperto de mãos , na pressão que se percebe quando se segura um braço, tem-se informação suficiente para a conversa interior gerar juízo de valor e monitorar, em muitas circunstâncias, o tipo de tratamento  a ser dispensado e a maneira de conduzir uma interação.

Quanto ao paladar, que  é estimulado  depois de algumas horas do nascimento,  tem importante significado  em muitas  situações  pessoais, econômicas e políticas,  não só  como fonte de prazer, mas também como facilitador  para se tratar de assuntos relevantes como acontece  em jantares e banquetes. Esse vínculo ao paladar (atávico),  apesar de pouco percebido, é tão significativo, que para muitas situações do cotidiano são atribuídas características a ele pertinentes (amargo, azedo, doce, salgado).

.8-PROXÊMICA

A intenção de se ficar próximo  a uma pessoa, ou de um grupo que comanda um evento ou atividade, normalmente comunica apreço, aprovação, consideração, prestígio, da mesma maneira que a disposição de ficar afastado, o mais longe possível, significa exatamente o contrário. São freqüentes essas situações, principalmente na vida de celebridades do mundo esportivo, artístico e político.

.9-CRONÊMICA

O atraso no cumprimento do horário para uma entrevista previamente agendada , ou  até para um encontro menos formal, além do tempo que pode ser descontado e tolerado, inerente à característica da atividade do dono da agenda, é sinal de deselegância de desapreço e de falta de consideração. É motivo de inúmeros incidentes de natureza diplomática, política, comercial e entre pessoas.

Igualmente significativo, e podendo levar a variada interpretação, é o chegar muito antes do horário combinado.

Assim sendo, independente da vontade, estamos sempre comunicando alguma coisa, o que equivale a dizer que estamos  o tempo todo sendo interpretados. Por nós mesmos e pelo mundo, uma vez que  nos manifestamos e nos expomos das mais variadas formas.
Somos diferentes das demais espécies, em que o canto ou os ruídos emitidos, assim como os rituais de caça, de aproximação por ocasião do acasalamento, de delimitação de território e sua guarda, de proteção dos filhotes, são geneticamente programados para cada uma delas. Estão estritamente vinculados ao estímulo fisiológico  a serviço de fugir do predador, de caçar, de procriar e de cuidar da cria, sempre  na dependência de condições ambientais específicas (Habitat) . Em certos casos, atendem ao condicionamento do amestrador, do cuidador ou a circunstâncias especiais vinculadas a alimentação.

Portanto , são desprovidas de função simbólica, ou seja de linguagem, que pressupõe a capacidade de abstração, apanágio da espécie humana.

 

Referências Bibliográficas/ Leituras Recomendadas:
Bearzoti, P.- Das Relações Topológicas e Euclidianas – trabalho em fase de publicação – email: bearzoti@bestway.com.br
Gesell, A., Amatruda,Y.C.(1962). Diagnostico del Desarrollo Normal y Anormal del Ninõ (2ed). Buenos Aires: Editorial Paidós.
Perdicaris, A. A. M.(1995). Comunicação Médica e Competência Interativa: Uma visão Semiótica; (Dissertação de Doutorado, PUC- S.P,1995).
Rodrigues, E. J. B. Síndrome: Enurese Noturna, Valgismo, Disfonia, Ortodontopatia. Rev. Br. Otorrinolaringologia 1977; 63 (3): 280-283.
Spitz, R. A.(1965). O Primeiro Ano de Vida (1ºed). São Paulo, SP: Martins Fontes.
Spitz, R.A. (1984). O Não e o Sim- a gênese da comunicação (2ªed).São Paulo,SP: Martins Fontes.


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02/maio/2024

O surgimento de situações que ameaçam ou comprometem a saúde, o desenvolvimento, o aprendizado ou a adaptação de uma criança inteligente e com bom potencial ao contexto familiar e social levam os pais a desenvolverem dois tipos de angústia. Uma delas é a “angústia expectante”, que acontece toda vez que o filho é acometido de qualquer manifestação de natureza física, como uma pneumonia, uma fratura, a necessidade de uma internação hospitalar ou uma intervenção cirúrgica, por exemplo. Ao lado das providências necessárias para atender a essas situações, os pais têm necessidade de compartilhar a ansiedade a elas inerente, chamando a solidariedade dos familiares e dos amigos.


Dr. Evaldo J. B. Rodrigues. CRM - SP- 12114. Todos os direitos reservados.