SERÁ QUE É AUTISMO MESMO?
Existem quadros clínicos de crianças que têm esporádicos lapsos de contacto visual, que raramente conseguem atingir objetivos ligados à dinâmica do dia a dia, via de regra referentes a alimentos, que de modo intermitente respondem a alguma intervenção verbal (geralmente o não!!) e que as vezes estão ligadas às músicas de abertura de novelas ou de desenhos animados , que não falam, têm o tempo de atenção encurtado , são inquietas e funcionam de maneira alheia ao que acontece ao seu redor. Enfim, apresentam uma qualidade pobre de interação com o seu ambiente que as levam , com freqüência e de maneira açodada, a serem consideradas autistas ou como fazendo parte do espectro autista. Muitas vezes as tendências de andar nas pontas dos pés, da fixação em objetos que giram , como ventilador por exemplo, são usadas como sinais para que o diagnóstico “seja fechado”. Seria uma veleidade se afirmasse que esse elenco de sinais, com maior ou menor intensidade, não são encontrados no espectro autista.
Porém, acontece que existem casos em que esses sinais fazem parte de outro quadro clínico que não diz respeito ao autismo. São casos em que, ao lado de outras manifestações, a dificuldade está na acentuada incapacidade da incorporação do espaço que rodeia a criança, associada a importante falha da atenção seletiva, que compromete de maneira severa a possibilidade de ser criada a relação entre o espaço e o tempo. Esse fato precisa ser levado em conta e considerado para o necessário diagnóstico diferencial porque pode acontecer em crianças com flacidez muscular (hipotonia) e/ou frouxidão de ligamentos. Isso é muito importante porque, se for o caso, o tratamento que se dispõe na medicina foniátrica poderá criar condição para que a criança comece a incorporar essa relação espaço/tempo, que é fundamental para a aprendizagem e o desenvolvimento de qualquer habilidade. Inclui o surgimento da melhor qualidade da atenção, que aos poucos se torna seletiva, da incipiente e progressiva capacidade de identificar e estabelecer preferência por pessoas , objetos, alimentos, do aparecimento de respostas às demonstrações de afeto, no aumento do jogo vocálico que um dia redundará na articulação de sons (fala).Enfim, o início de um círculo virtuoso na interação com o ambiente. São resultados possíveis nas circunstâncias mencionadas, em que a evolução irá depender da capacidade de resposta de cada criança e, como item fundamental, de um ambiente de estimulação descontraído, caracterizado pela ausência de pressão, de cobrança e de ansiedade, que só é conseguido quando a família sente a segurança de uma situação clínica bem equacionada. Fica criada a condição de melhora marcante nos resultados das terapias necessárias de maneira isolada ou associadas (fonoterapia, psicopedagogia, T.Ocupacional, psicologia, fisioterapia, equoterapia). Não deixam de ser nocivos os palpiteiros de dentro e de fora da família que, com a “intenção de ajudar”, massacram os pais já fragilizados e preocupados com a sua criança defasada em relação às demais da mesma idade. Levam os pais ao desespero que os impele a sair a procura de uma providência (consultas ou exames) com o “condão de uma vara mágica”, o que impede que aguardem com calma e bom senso o surgimento dos resultados do tratamento clínico que de início aparecem lentamente nesses casos.
Evaldo José Bizachi Rodrigues