Evaldo José Bizachi Rodrigues
Para melhor caracterizar a situação de dificuldade com a leitura e a escrita, e suas implicações, frequentes na prática clínica, vamos tomar como exemplo uma criança com febre. Da mesma forma que a febre não é considerada um problema da pele e sim um sinal clínico, provocado por diferentes causas, que se manifesta na pele, o mau desempenho na escrita, a leitura de má qualidade e a desatenção em sala de aula não são problemas da leitura e da escrita, mas sim manifestações que acontecem na sua realização pela falta de condição da criança em executá-las, por diferentes motivos.
Sem essa informação, prevalece nas dificuldades escolares a luta contra o mau resultado, sem que as causas sejam atacadas.
Apela-se para o uso de medicamentos para diminuir a agitação e a dispersividade da criança, a persistente realização de cópias, ditados e exercícios de leitura, com o intuito de melhorar o desempenho, com resultados desalentadores.
São procedimentos com esse viés que levam a criança, que não tem condição, a desenvolver crescente resistência e fobia em relação às atividades de leitura e escrita e daí, chega-se ao rótulo de disléxica.
Da mesma maneira que acontece com qualquer sinal-sintoma clínico (febre, cólica etc.), na leitura e na escrita dessa criança também acontece oscilação, com altos e baixos. O esporádico desempenho um pouco melhor leva os pais e professores à falsa impressão de que, “quando quer”, faz direito, e induz à errônea conclusão de falta de empenho, de safadeza ou de irresponsabilidade.
Nesse contexto, a família assume as lições e passa a tomar conta da agenda escolar. Entra em agonia às vésperas das provas e fica ansiosa à espera dos resultados. Não é raro, a escola ser pressionada para novas oportunidades para melhora das notas, além de conteúdo diferenciado que já é oferecido.
Da parte da criança, vem sempre a honestíssima resposta “Não Sei”, quando indagada de como se saiu numa prova. Mesmo que tenha conseguido nota razoável, o conteúdo que a motivou parece esquecido no dia seguinte ao da prova, como se, para adquirir um novo conhecimento, o antigo tivesse que sair para lhe dar lugar, para desespero inclusive da professora auxiliar da sala de aula, que muitas vezes a família solicita.
Aos poucos, cria-se um clima muito sofrido e triste para a criança que passa a funcionar como office-boy de má qualidade, ao trazer dados incompletos da escola para casa e a levar, de casa para a escola, tarefas malfeitas, com frequência “terceirizadas” aos pais que, pela mão da criança, a duras penas, realizam os deveres de casa, quase sempre num clima de verdadeira guerra.
As notas razoáveis que passam a constar do boletim, obtidas à custa de muita coação, criam a falsa ilusão de que a sua criança está caminhando e alimentam a vã esperança de que, com o tempo, as dificuldades serão superadas. Não se percebe que essa criança está sendo levada para situações cada vez mais complicadas, com os conteúdos mais complexos das séries seguintes, que se sabe ela não tem condições de dominar.
A rebeldia, as atitudes agressivas e a maneira um tanto “cínica” de funcionar passam a prevalecer quando o assunto é escola. Não é rara a providência de esconder uma prova com nota baixa ou uma advertência vinda da escola, com a menção do mau rendimento.
Apesar de ser frequente nessa criança o perfil de infantilizada, a apatia e os sinais de baixa autoestima começam a permear sua interação, com tendência ao isolamento e às manifestações de fuga (celular é o preferido e nocivo porque aliena). (vide o Link Linguagem)**
E, dessa maneira, criança inteligente e com bom potencial, que no decorrer do seu desenvolvimento apresentou falhas nos pré-requisitos indispensáveis para a aquisição e a automatização dos mecanismos de leitura e escrita, que não foram valorizadas ou mal resolvidas, vai sendo empurrada para o sofrido caminho do insucesso escolar. (vide o Link Leitura e Escrita)**
Se essas falhas forem precocemente identificadas, evita-se que a criança entre por esse caminho, pela oportunidade de diagnóstico e tratamento adequados com os recursos atuais de que dispõe a medicina foniátrica, que orienta e oferece as correções metabólicas necessárias, de preferência antes da exposição à alfabetização.
Sua atuação tornam rápidas e eficientes as intervenções da fonoterapia, das terapias ocupacional, psicopedagógica e psicológica, de forma isolada ou associada, se necessário, mesmo que a criança já esteja enfrentando dificuldades (vide o Link Resultados).**
**Visite o site www.foniatria.med.br
Dr. Evaldo José Bizachi Rodrigues- Médico Foniatra e Otorrinolaringologista