Evaldo José Bizachi Rodrigues
Atualmente as famílias que têm alguém com qualquer desvio da fala, da leitura, da escrita, ou do desenvolvimento, sofrem com uma persistente e desconfortável atitude das pessoas do seu convívio.
Familiares, amigos e, com frequência, profissionais de diferentes áreas da saúde e da educação, de modo precipitado, estabelecem diagnósticos e rótulos de patologias e de doenças baseados em sintomas que são inespecíficos, porque aparecem em inúmeras circunstâncias clínicas.
Autismo com suas variações e dislexia são os rótulos preferidos que aos poucos vão perdendo terreno para a dispraxia, apresentados para as famílias sem que estejam lastreados em avaliação clínica, em que os sintomas e sinais encontrados tenham passado pelo crivo do imprescindível diagnóstico diferencial. O pânico das famílias aumenta à medida que esses pseudos-diagnósticos vêm acompanhados de baixo ou mau rendimento nas atividades propostas para melhora das funções que estão prejudicadas. Desse modo, fica criado o ambiente para solicitação de novos exames ou avaliações, muitas vezes com indicação discutível, quando não, a mudança de toda equipe.
E toda a história recomeça, mesmo naqueles casos em que a criança não apresenta condição de melhor resposta ao tratamento, e não se leva em conta a limitação do potencial do cliente e nem dos recursos de que a família dispõe.
Esses aspectos, que são fundamentais, não costumam ser convenientemente considerados no trato com a família, que é induzida a acreditar que o novo exame vai trazer a chave mágica para a solução.
Autismo com suas variações, dislexia e dispraxias existem, mas não da maneira epidêmica como atualmente querem fazer parecer. Para defini-los impõe-se acurado diagnóstico clínico e diferencial com a falha na incorporação do espaço, frequente na infância, principalmente em crianças hipotônicas (flácidas) e/ou com frouxidão de ligamentos (em www.foniatria.med.br vide Síndrome EValDO-Hipotonia-Leitura e Escrita).
É a adequada incorporação do espaço que circunda a criança (joguinho eletrônico compromete, porque aliena) que permite que seja adquirido e aprimorado o conceito abstrato de tempo/espaço. Isso é fundamental para que sejam compreendidas as relações causa/efeito, que permeiam continuamente o cotidiano, e que constituem a base para a aquisição e desenvolvimento da linguagem, da capacidade de interação com o ambiente (noção de perigo, de valores, de limites, de respeito, etc.) e no momento oportuno a alfabetização (é abstração refinada som/letra e vice e versa).
Muitas vezes o atraso e desvios da fala chamam mais a atenção que a falha da capacidade da abstração do conceito tempo/espaço, que é mais importante e que está sempre presente nessas circunstâncias, com maior ou menor intensidade (criança imatura e infantilizada). De qualquer maneira, tratam-se de situações que deixam as famílias desnorteadas e em pânico, desnecessariamente no mais das vezes, até porque, felizmente, um número considerável de quem está vivendo essa situação é constituído de indivíduos que têm potencial, são aparentemente “normais”, sem sintomas neurológicos, que no momento estão com dificuldade na comunicação oral e/ou escrita, na adaptação ao ambiente ou no tempo de atenção seletiva.
São casos em que o diagnóstico e tratamento foniátricos podem levar a bom termo, porque propiciam a orientação e as condições metabólicas adequadas e necessárias para que melhor respondam às terapias que tiverem indicação: fonoaudiológica, psicopedagógica, psicológica, de fisioterapia, terapia ocupacional, de maneira isolada ou em associação.